Foi com este mote que Jair Messias
Bolsonaro se tornou, no dia 28 de outubro, o 38º Presidente (eleito) da
República Federativa do Brasil. Ao contrário da nossa realidade, no Brasil
ainda está muito vincado um sentimento de pertença por parte da esmagadora
maioria da população a diversas denominações e isso, naturalmente, transborda
para a realidade política. Bolsonaro soube aproveitar este facto de forma muito
arguta, personalizando ao máximo a eleição, simplificando-a e tornando-a uma
escolha entre a “Redenção” (ele) e o “Apocalipse” (Haddad/PT/Lula), numa
clássica tática de polarização (ou nós ou o caos). Em termos de estratégia
política tem tudo para ser, de facto, um case study, se não veja-se o
percurso que o candidato começou a delinear desde o dia em que foi esfaqueado
(quando andava na faixa dos 20% dos votos) até ao dia da 2ª volta (ou 2º turno
como dizem os nossos irmãos brasileiros), em que obteve a maioria absoluta dos
votos (55%). Foi, sem margem para dúvidas, um percurso em ascendente, alicerçado
numa mensagem simples (combate à insegurança e à corrupção e, por conseguinte,
ao enriquecimento ilícito), plasmada aliás no título do artigo, num alvo bem
definido (o PT e os seus 14 anos de governação) e na figura de um
profeta-mártir (o mito Messias Bolsonaro).
Após o atentado de Minas Gerais houve, aliás,
uma bem-sucedida moderação do discurso do candidato, aparecendo este com uma
postura de humildade, quiçá até candura, e demonstrando uma fragilidade/humanidade
até aí desconhecida e que terá apelado de forma decisiva a uma grande parte do
eleitorado ainda indeciso. Foi, creio, o turning
point de uma campanha de um candidato de franjas para uma campanha de um
candidato com reais hipóteses de vencer não só a 1ª volta, como já se previa
desde há algum tempo, mas também a 2ª volta, como veio efetivamente a suceder.
A partir desse momento, e estando em vantagem,
foi uma questão de deixar o tempo correr, pois tornou-se evidente que o
candidato do PT estava perante uma montanha impossível de escalar, o que
explica a tentativa de Haddad forçar Bolsonaro a debater, fazendo-o sair da sua
zona de conforto, o que este, ardilosamente, diga-se de passagem, evitou, pois
estando em vantagem nada teria a ganhar em expor-se num campo onde o adversário
seria previsivelmente mais forte. De ser um candidato incauto ninguém poderá
acusar Bolsonaro, tendo seguido muito bem a velha máxima de esconder os
defeitos e realçar as virtudes, como qualquer político que se digne deve fazer…
Não fugiremos à verdade se dissermos que o
discurso de Bolsonaro tem alguns laivos populistas, embora com nuances
de um pragmatismo porventura inesperado, vindo de um candidato que se
diz ser despreparado, como será a escolha de Paulo Guedes (reputado economista
e seguidor da linha da Escola de Chicago) para Ministro das Finanças e Economia
e, sobretudo, do Juiz Federal Sérgio Moro para Ministro da Justiça, numa notória
e inusitada tentativa de marcar um claro contraste com a governação anterior,
tentando introduzir um elemento “meritocrático” na escolha dos novos membros do
Governo, o que é de salutar, note-se.
Relativamente às preocupações generalizadas
quanto a possíveis pulsões ou derivas antidemocráticas do agora
Presidente-eleito, nomeadamente à esquerda, com a colagem de epítetos como
ditador ou fascista, basta atentar no discurso de Bolsonaro para perceber que,
por agora, o novo Chefe de Estado brasileiro dá sinais de uma certa inversão de
marcha e normalização/conformação aos trâmites democráticos vigentes, o que vem
provar, mais uma vez, que as campanhas personalizadas como são as
presidenciais, tendem sempre a extremar o discurso em período eleitoral para
depois, naturalmente, moderarem os excessos de linguagem e discurso na fase
pós-eleitoral. É dos livros, como diria o notável Norberto Bobbio. Teremos,
pois, de aguardar pelas primeiras medidas do Governo Bolsonaro, concedendo-lhe
o benefício da dúvida, como devemos fazer a todos aqueles que são eleitos
democraticamente, sem exceção, antes de, antecipada e precipitadamente, nos
convertermos em arautos da desgraça, mormente em relação a um candidato que prometeu
governar “seguindo os mandamentos de Deus”.
Os desafios para o novo Governo não são de
somenos, constituindo a gritante falta de segurança (um número impressionante
de mais de 60.000 assassinatos só em 2017!) e a corrupção os problemas mais
prementes para Bolsonaro e o seu elenco governativo tomarem em mãos, o que não
será fácil, pois muitas dessas medidas terão de ter o crivo de um Congresso
muito fragmentado (onde 30 partidos terão assento parlamentar na Câmara dos
Deputados e 21 no Senado!), exigindo maiorias qualificadas para a aprovação de leis
que estarão ainda sujeitas a litigância perante o Supremo Tribunal Federal, com
poderes para avaliar a constitucionalidade dos actos normativos. Se juntarmos a
isto a necessidade de um “choque” para revitalizar a anémica economia do
Brasil, então estamos a falar de uma tarefa de proporções dantescas. Perante
tal cenário, fica mais fácil entender o porquê de o novo Presidente recorrer
constantemente à inspiração divina, é que bem vai precisar Dela!
Em jeito de conclusão, esperemos que esta
mudança de ciclo possa, sinceramente, significar o alcançar dos anseios do povo
desse país-continente, riquíssimo em recursos naturais e com condições para se
assumir como uma grande potência regional, com um papel muito relevante a
desempenhar no Grande Concerto das Nações.
Se Deus, como se sói dizer por Terras de Vera-Cruz,
for mesmo brasileiro, então há razões para estarmos cautelosamente otimistas,
pois pior do que estava não pode mesmo ficar, estamos em crer. Alea jacta est…
* Lema de campanha da candidatura à
Presidência da República de Jair Bolsonaro